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Apagão na Europa: reflexões sobre a imprevisibilidade na vida das imigrantes

Hoje, 28 de abril de 2025, milhões de pessoas na Espanha, Portugal, Andorra e partes da França vivenciaram um apagão de proporções extraordinárias. Por várias horas, a falta de eletricidade paralisou cidades, afetou transportes, hospitais e até as comunicações básicas. Este evento imprevisto trouxe à tona, mais uma vez, a vulnerabilidade diante de forças externas que não podemos controlar, algo que se torna particularmente intenso para quem está longe de casa, vivendo a experiência da imigração.

Em situações como essa, é difícil não refletir sobre a fragilidade que nos acompanha em muitos momentos da vida. A falta de controle sobre acontecimentos como um apagão é uma lembrança dolorosa de que, embora possamos organizar nossa rotina, fazer planos e até estabelecer estratégias de adaptação, há forças externas que, muitas vezes, escapam ao nosso alcance.

Para quem é imigrante, essa sensação de impotência pode ser ainda mais intensa. Vivemos em um contexto em que a nossa base de segurança emocional já está fragilizada. A saudade de casa, o enfrentamento de um novo sistema, a distância da família e as inseguranças culturais e sociais, muitas vezes, criam um terreno fértil para a ansiedade e o medo. E, quando eventos imprevistos como este apagão acontecem, esses sentimentos podem ser amplificados, nos fazendo sentir mais vulneráveis e isoladas.

A imprevisibilidade é uma das grandes fontes de estresse para as imigrantes. Quando não sabemos o que esperar do novo país — seja por uma crise como essa, seja pela instabilidade do mercado de trabalho ou pelas questões de adaptação cultural —, nosso estado emocional tende a ser afetado de maneira profunda. A falta de controle pode nos deixar com a sensação de que estamos sempre à mercê das circunstâncias, o que gera um círculo de ansiedade constante.

O importante, no entanto, é entender que esse sentimento de vulnerabilidade não precisa ser algo negativo. Pelo contrário, ele pode ser uma oportunidade para fortalecer a nossa resiliência e compreensão de que, apesar de não podermos controlar tudo, podemos aprender a lidar com os imprevistos de uma maneira mais equilibrada.

Aqui estão algumas reflexões e práticas que podem te ajudar nesse processo de adaptação e enfrentamento da imprevisibilidade:

  1. Aceitação da incerteza: Vivemos em um mundo cada vez mais imprevisível, e isso, por mais desconfortável que seja, faz parte da experiência humana. A aceitação da incerteza não significa resignação, mas sim a compreensão de que nem tudo está sob o nosso controle. Essa aceitação pode diminuir a ansiedade e nos ajudar a lidar com as adversidades de maneira mais equilibrada.
  2. Fortalecimento da resiliência: A capacidade de nos adaptarmos aos imprevistos é uma habilidade que pode ser cultivada. Cada desafio enfrentado, como esse apagão, nos oferece uma chance de aprender novas formas de lidar com a adversidade. Reflita sobre como você já superou situações difíceis e use essas experiências como base para fortalecer sua resiliência.
  3. A importância da rede de apoio: Em momentos de crise, como este apagão, ter um sistema de apoio próximo é essencial. Amigos, familiares ou até grupos de apoio entre imigrantes podem proporcionar um sentimento de pertencimento e segurança. Esses laços são fundamentais para diminuir a sensação de solidão e vulnerabilidade.
  4. Cuidado com a saúde mental: Em situações de incerteza, nossa saúde mental pode ser bastante afetada. Práticas de autocuidado como meditação, exercícios de respiração ou atividades físicas, podem ajudar a manter o equilíbrio emocional. Estar em contato com o seu próprio corpo e mente, especialmente em tempos de estresse, é fundamental para manter o controle interno.
  5. Busca por informação confiável: O pânico em situações como apagões pode ser exacerbado pela falta de informações claras. Buscar fontes confiáveis e se manter informada de maneira equilibrada pode ajudar a reduzir o medo do desconhecido. Lembre-se: estar bem informada é um passo importante para recuperar o senso de controle sobre a situação.

A experiência da imigração é uma jornada cheia de desafios, muitos dos quais não podemos prever ou controlar. Porém, ao aprender a lidar com esses momentos de incerteza, podemos fortalecer nossa capacidade de adaptação, resiliência e, acima de tudo, de autoconhecimento.

Mesmo em meio à escuridão de um apagão, existe sempre a possibilidade de acender a sua luz interna. O importante é lembrar que a sua força está na forma como você escolhe reagir diante dos desafios, e que, mesmo fora do Brasil, é possível criar um novo equilíbrio, ainda que as circunstâncias fujam ao nosso controle.

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Voltar ou ficar? O dilema de tantas brasileiras imigrantes na Europa

Decidir voltar para o Brasil ou permanecer na Europa é, talvez, uma das questões mais íntimas, dolorosas e solitárias que uma imigrante pode viver. Essa dúvida não nasce de um dia para o outro — ela vai se formando aos poucos, no silêncio das noites em que o travesseiro se torna confidente. Ela aparece na saudade da comida feita pela mãe, no vazio das celebrações distantes, nas tentativas de pertencer a um lugar onde a gente sempre parece um pouco de fora.

Se você está passando por esse momento de indecisão, quero te convidar a fazer uma pausa comigo agora. Vamos conversar com calma. Sem pressa, sem julgamentos, sem fórmulas prontas. Apenas com presença e escuta.

Quando a saudade grita mais alto

A saudade não é só um sentimento. Para muitas mulheres migrantes, ela se manifesta no corpo: na ansiedade que aperta o peito, na angústia que tira o sono, na tristeza que aparece mesmo quando a vida parece estar “indo bem”. É um vazio difícil de explicar para quem nunca saiu do seu país.

Segundo Joseba Achotegui, psiquiatra espanhol que estuda os efeitos psicológicos da migração, o luto migratório é um processo complexo que envolve perdas múltiplas: da língua, da cultura, dos vínculos sociais, do status profissional e até da própria identidade. A saudade, nesse contexto, não é um capricho — ela é parte legítima de um processo emocional profundo.

Voltar ao Brasil, muitas vezes, parece ser a única forma de aliviar essa dor. Mas será que é mesmo o retorno que vai curá-la? Ou será que o que você precisa é se escutar com mais profundidade, com menos julgamento e com mais compaixão?

Informar-se com equilíbrio é essencial

Ficar pode ser um ato de coragem. Mas também pode ser exaustivo. Em especial quando as dificuldades parecem se repetir: barreiras linguísticas, isolamento, trabalho abaixo da sua qualificação, preconceito, burocracias infinitas e uma constante sensação de não pertencimento.

Ainda assim, é importante lembrar que as dificuldades fazem parte da fase de adaptação — e que adaptação é um processo, não um destino. John W. Berry, psicólogo canadense que estudou profundamente a adaptação intercultural, mostrou que, com o tempo e o suporte certo, é possível desenvolver estratégias para integrar-se à nova cultura sem perder sua própria cultura.

Mas isso exige tempo, suporte emocional e um olhar cuidadoso para si mesma. Permanecer não precisa ser um ato solitário. Você não precisa “dar conta de tudo” sozinha. Talvez esse seja justamente o momento de pedir ajuda.

E se o problema não for o país, mas o cansaço acumulado?

Muitas mulheres acreditam que voltar ao Brasil resolverá todos os seus incômodos. Mas às vezes o que está pesando não é o país onde vivem, e sim o acúmulo de experiências não elaboradas: frustrações engolidas, lutos não vividos, pressões internas e externas que não deram espaço para que suas emoções fossem escutadas.

Quando você se pergunta se deve voltar ou ficar, talvez a pergunta mais importante seja:
“O que eu realmente preciso agora?”

Você precisa de descanso? De pertencimento? De reconhecimento? De uma nova rede de apoio? De reconstruir sua autoestima? De voltar a sonhar?

Voltar ao Brasil pode ser, sim, uma escolha legítima e digna. Mas também pode ser uma fuga do que precisa ser olhado com mais profundidade.

Não se cobre por querer desistir. Mas também não decida de cabeça quente.

A migração, por mais desejada que tenha sido, não é um processo linear. Ela tem altos e baixos. Tem dias em que você se sente uma gigante por estar vencendo tantos obstáculos. E tem dias em que tudo o que você queria era estar no colo da sua mãe. Isso não significa que você está fracassando. Significa apenas que você é humana.

Se você está pensando em voltar, tente não tomar essa decisão no auge da dor. Decidir no momento da exaustão pode te levar a caminhos que você não deseja de verdade. Permita-se tempo para pensar, sentir, conversar com pessoas de confiança e buscar apoio psicológico.

O retorno ao Brasil pode ser o recomeço. Mas também exige preparação.

Se, depois de refletir profundamente, você entender que voltar é o melhor para você, saiba que isso também exigirá planejamento e adaptação. O retorno migratório, segundo diversos estudos, também pode causar choque cultural, frustração e sensação de deslocamento.

Você não será a mesma que partiu. E o Brasil também não será mais o mesmo. Por isso, independentemente da sua decisão, cuide da sua saúde mental. Acolha suas emoções com gentileza.

Você não precisa ter todas as respostas agora

Se posso te dizer algo como psicóloga intercultural, é: não existe resposta certa ou errada. Existe o que faz sentido para você hoje — com o que você sente, com o que você tem, com o que você pode.

E, às vezes, a decisão mais importante não é escolher entre voltar ou ficar. Mas escolher não se abandonar no meio do caminho.

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Kit de sobrevivência: Como manter a calma diante da incerteza

Nos últimos dias, um comunicado da União Europeia orientando os cidadãos a armazenarem itens de emergência para três dias reacendeu o medo de uma possível guerra. Para quem já vive no exterior, longe da família e da rede de apoio que um dia chamou de lar, esse tipo de notícia pode trazer uma avalanche de emoções: ansiedade, insegurança e até uma sensação de impotência.

Se você sentiu o coração acelerar ao ler as manchetes ou se pegou imaginando os piores cenários, quero que respire fundo. Vamos conversar sobre como enfrentar esse momento com mais clareza e equilíbrio.

O medo é natural, mas não precisa te paralisar

Diante de eventos globais incertos, o medo é uma resposta automática do nosso cérebro. Ele nos alerta sobre possíveis ameaças e nos impulsiona a buscar segurança. O problema acontece quando esse medo se torna um estado constante, tirando nossa paz e nos impedindo de viver com serenidade.

Como imigrante, você já enfrentou grandes desafios: aprendeu a lidar com uma nova cultura, talvez tenha reconstruído sua carreira do zero, lidou com burocracias que pareciam impossíveis e superou momentos de solidão. Você é mais resiliente do que imagina.

O que estamos vivendo agora é mais um momento de incerteza, mas não significa que o pior vai acontecer. Muitas vezes, governos fazem recomendações preventivas para garantir que a população esteja preparada para cenários que podem nunca se concretizar. Isso não quer dizer que há uma ameaça imediata.

Informar-se com equilíbrio é essencial

Em tempos de crise, a maneira como consumimos informação impacta diretamente a nossa saúde mental. Se você passa o dia todo lendo notícias alarmantes, acompanhando redes sociais cheias de teorias e recebendo mensagens de familiares preocupados, seu sistema nervoso ficará em estado de alerta constante, aumentando a sua ansiedade.

Aqui estão algumas estratégias para lidar com isso:

✔ Escolha fontes confiáveis: Priorize veículos de imprensa sérios e evite cair em fake news que só estimulam a ansiedade.

✔ Estabeleça um limite para o consumo de notícias: Verificar uma ou duas vezes ao dia já é suficiente para se manter informada sem sobrecarregar sua mente.

✔ Cuidado com o efeito emocional das redes sociais: O medo coletivo pode criar uma bolha de pânico. Filtre o que lê e evite compartilhar conteúdos sensacionalistas.

O que está ao seu alcance?

Diante da incerteza, um dos maiores desafios é a sensação de falta de controle. Para combater isso, uma estratégia eficaz é focar no que você pode fazer no momento presente.

Se preparar com um pequeno kit de emergência — como sugerido pela União Europeia — não significa que algo grave vá acontecer, mas pode trazer uma sensação de segurança. Tenha o básico: água, alimentos não perecíveis, remédios essenciais, dinheiro e documentos organizados. Não se trata de viver em estado de alerta, mas sim de ter tranquilidade caso precise.

Além disso, fortalecer sua rede de apoio no país onde vive pode ser uma grande fonte de segurança emocional. Manter contato com amigos, conversar com outras imigrantes que compartilham suas preocupações e buscar suporte psicológico são formas de não carregar esse peso sozinha.

A importância do autocuidado emocional

Se você sente que a ansiedade tem aumentado nos últimos dias, volte para aquilo que te ancora. O que te traz conforto e segurança? Para algumas pessoas, pode ser praticar exercícios físicos, meditar, manter uma rotina estruturada ou simplesmente conversar com alguém de confiança.

Aqui estão algumas práticas que podem te ajudar a manter a calma:

✔ Respiração consciente: Sempre que sentir a ansiedade aumentar, faça respirações profundas e lentas. Isso ajuda a acalmar o sistema nervoso.

✔ Atividades que te conectam ao presente: Ler um livro, caminhar ao ar livre, ouvir músicas que te tragam paz — tudo isso ajuda a desviar o foco do medo.

✔ Lembre-se da sua força: Você já enfrentou desafios antes e encontrou caminhos para seguir. Confie na sua capacidade de adaptação.

O que essa experiência pode ensinar?

Se há algo que a vida fora do Brasil nos ensina, é que precisamos aprender a viver com a incerteza. Ser imigrante é, em muitos aspectos, um exercício contínuo de resiliência e flexibilidade.

A insegurança global pode mexer com nossas emoções, mas também pode nos lembrar do que realmente importa: estar conectadas com quem amamos, valorizar o presente e encontrar estabilidade dentro de nós mesmas, independentemente do que acontece lá fora.

Se você sente que precisa de mais apoio para lidar com essa fase, não hesite em buscar apoio emocional. A psicoterapia pode ser um espaço importante para elaborar seus medos e encontrar caminhos para viver com mais leveza.

No meio do turbilhão de informações e preocupações, não se esqueça: você não está sozinha. E, acima de tudo, você tem recursos internos para atravessar esse momento com coragem e equilíbrio.